terça-feira, 9 de junho de 2009

Gases do efeito estufa estocados no fundo do mar

Um dos melhores lugares para estocar dióxido de carbono produzido por usinas geradoras de eletricidade são formações vulcânicas profundas. Pré-sal, no Brasil, também poderia tirar partido dessa alternativa.


Compartimento para aprisionar carbono. Injetar CO2 líquido em formações basálticas pode ser a maneira mais segura e bem sucedida de sequestrar gases do efeito estufa.

(Scientific American Brasil) Rochas vulcânicas a grandes profundidades ao longo da costa dos estados da Califórnia, Oregon e Washington podem ser, de acordo com um novo estudo, um dos melhores lugares para estocar as emissões de dióxido de carbono relacionadas ao aquecimento global. Na verdade, a mesma instabilidade que ocasiona terremotos e erupções, aumenta a proteção contra o escape do CO2.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) e outros especialistas, inclusive do G8 (grupo dos líderes das oito nações mais ricas), consideram o sequestro e estocagem do carbono uma medida crítica na luta contra as mudanças climáticas. Basicamente, esse procedimento aprisiona o CO2 e outros poluentes emitidos quando o carvão ou outros combustíveis fósseis são queimados. O CO2 é comprimido até se liquefazer e depois bombeado para o subsolo onde é aprisionado.

Essa tecnologia foi demonstrada em pequena escala para melhorar a extração de petróleo de campos esgotados. Bombeando CO2, consegue-se fazer com que mais óleo jorre na superfície. Mas o geofísico David Goldberg, do Lamont–Doherty Earth Observatory da Columbia University, em Palisades, Nova York, e seus colegas, descobriram que bombear CO2 na rocha basáltica abaixo do leito oceânico seria uma solução ainda melhor.

Mais especificamente, o CO2 líquido, estocado a mais de 2.700 m abaixo da superfície, é mais pesado que a coluna de água sobre ele, o que significa que qualquer eventual vazamento não se desprenderia de volta para a atmosfera. Além disso, o CO2 se mistura com a água aquecida pela atividade vulcânica abaixo da superfície e sofre reações químicas dentro do basalto (a rocha negra criada pelo esfriamento rápido da lava), formando compostos carbonatados ─ conhecidos como giz ─ e aprisionando efetivamente o gás do efeito estufa na forma mineral. A camada de 200 m de sedimento marinho sobre a rocha basáltica serve como uma segunda barreira. “Há três mecanismos de aprisionamento sobrepostos para manter o CO2 em segurança sob o fundo do mar e afastado da atmosfera,” avalia Goldberg.

Pesquisadores acreditam que, no mínimo, 229 bilhões de toneladas de carbono poderão ser armazenadas nas formações basálticas da placa Juan de Fuca ─ a 160 km ao largo da costa ocidental dos Estados Unidos ─, o equivalente a 122 anos de armazenamento dos 1,9 bilhão de toneladas produzidas pelos Estados Unidos anualmente.

É improvável que todo CO2 emitido possa ser capturado e transportado ─ por tubulações ou navios-tanques ─ para ser injetado na costa oeste, mas as usinas da região poderão aproveitar essa técnica.

“No entanto, até que mais estudos sejam realizados, a política climática americana não deverá se apoiar nessa tecnologia, mas, no futuro, parece bastante promissora,” avalia o engenheiro da Carnegie Mellon University, M. Granger Morgan, perito em sequestro de carbono.

De acordo com Goldberg, que atualmente pesquisa recursos globais, essas formações também existem em várias partes do mundo. O próximo passo será criar um projeto-piloto, para injetar pequenas quantidades de CO2 no subsolo oceânico e observar o que acontece, mas o processo levará pelo menos três anos. Pesquisadores da Islândia começarão, ainda este ano, a bombear CO2 de uma usina para uma formação basáltica semelhante, mas em terra, e não suboceânica.

“Trata-se de armazenamento de volumes enormes e, portanto, de um problema gigantesco,” observa Goldberg. “Essa opção merece análise profunda, porque os benefícios serão compensadores.”

Essa alternativa de estocar dióxido de carbono em grandes profundidades, ao menos em princípio, favorece a exploração das reservas de petróleo na chamada camada de pré-sal, no Brasil. Críticos da exploração dessas reservas têm sistematicamente apontados pretensas impossibilidades nessas reservas. Mas, a injeção de gás carbônico líquido, não só facilitaria a exploração (fazendo com que o óleo jorrasse sob pressão adicional) como facilitaria a estocagem desse gás em profundidades ainda maiores que as consideradas nos Estados Unidos.

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